quinta-feira, 27 de julho de 2017

DUNKIRK e o Renascimento do 70mm



Até ao final de 2017, muito dificilmente veremos uma obra com a mesma dimensão visual que este DUNKIRK.

Como sobejamente sublinhado pela imprensa cinematográfica, Christopher Nolan recriou a evacuação, em 1940, do exército britânico de Dunquerque, inteiramente com câmaras IMAX 65mm e em película de 65mm. Uma decisão estética que não só é o principal triunfo do filme, como providencia as luzes necessárias para se compreender, nesta era dominada por uma lógica de distribuição assente no cinema digital, as potencialidades económicas do 70mm. Os números da afluência de espectadores às sessões neste formato são elucidativos, assim como a unanimidade crítica em torno dos méritos da projecção em grande formato.

Na verdade, a experiência de se observar DUNKIRK em 70mm ou em IMAX (como foi o meu caso), eleva o filme da grande maioria das estreias cinematográficas agendadas para os próximos meses; possivelmente, apenas STAR WARS: THE LAST JEDI, com algumas sequências também filmadas em 65mm, conseguirá rivalizar.

Da mesma forma, revela-se tarefa árdua encontrar antecedentes perante o espectáculo cinematográfico construído por Christopher Nolan. Veja-se as sequências aéreas — profusas na manipulação do nosso sentido de orientação e detentoras de um cariz quase realista —, sem dúvida as mais bem conseguidas pelo filme e que parecem invocar o documentário SKY OVER HOLLAND (1967, John Fernhout), um "postal turístico" dos Países Baixos capturado em Superpanorama 70. Ou o alinhamento de milhares de homens nas praias de Dunquerque, visão desoladora pontada pelo negrume do areal em total oposição com a alvura dos desertos em Super Panavision 70 de LAWRENCE DA ARÁBIA (1962, David Lean).

De um ponto de vista crítico, DUNKIRK não é isento de lacunas: o sofrimento e angústia destes soldados, retidos em França com a pátria mesmo "ali ao lado", não conseguem ser mais do que superficiais, e a omnipresente banda sonora de Hans Zimmer tem, a partir de certa altura, um teor deveras saturante.

Mas a Nolan não se poderá, em nenhuma ocasião, negar o valor de revisitar a Segunda Guerra Mundial segundo um método de trabalho old school, com parco recurso ao CGI e ressuscitando o 70mm como o maior formato (em tamanho, envolvimento e resolução) do Cinema.

[Imagem: Music Box Theatre‏.]

Sem comentários:

Enviar um comentário